Silenciar dados é educar no escuro: o que está por trás da omissão do MEC? Sem transparência, não há como planejar o futuro da educação brasileira, especialmente quando se trata da alfabetização de nossas crianças.

Quem vive a educação de perto, seja em sala de aula, na gestão escolar ou no acompanhamento das famílias, sabe que a alfabetização na idade certa é decisiva. Ela não é apenas uma etapa do processo educativo; é o alicerce sobre o qual se constrói toda a vida escolar. Por isso, causou perplexidade entre muitos profissionais da área a notícia de que o Inep optou por não divulgar os resultados da avaliação de alfabetização dos alunos do 2º ano do ensino fundamental, realizada pelo Saeb. A alegação oficial fala em inconsistências metodológicas: amostras frágeis, poucos itens avaliativos, dificuldades estatísticas. Mas para quem acompanha, há anos, os desafios concretos da aprendizagem no Brasil, a decisão de não tornar os dados públicos parece menos técnica e mais política. E isso preocupa, porque planejar no escuro é condenar gerações a repetir os mesmos erros. Na trajetória educacional nos aspectos psicológicos e pedagógicas a escuta é o primeiro passo para qualquer transformação. Esse princípio vale para a educação privada, mas principalmente para as públicas: precisamos olhar com seriedade para os dados, mesmo quando eles nos confrontam. Esconder ou adiar a divulgação dos resultados compromete não apenas a gestão educacional, mas também a confiança da sociedade nas instituições que deveriam zelar pelo direito à aprendizagem. É natural que os resultados de um período tão atípico como o pós-pandemia revelem defasagens. O problema não está em ter índices baixos, e sim em não os enfrentar com honestidade e coragem. Só a partir de diagnósticos reais podemos desenvolver políticas públicas eficazes, que reconheçam as desigualdades e proponham caminhos viáveis para superá-las. Mais do que números, o que está em jogo aqui é a vida de milhares de crianças, especialmente as que dependem da escola pública como única porta de acesso ao conhecimento. Sem transparência, não há como garantir equidade. Sem dados, não há como avaliar se as estratégias estão funcionando ou se é preciso mudar a rota. O anúncio recente do ministro Camilo Santana, de que os dados serão finalmente divulgados, é um passo importante. Mas não basta divulgar: é preciso apresentar um plano de ação claro, com metas realistas, apoio técnico e articulação entre União, estados e municípios. A recomposição da alfabetização exige urgência, mas também compromisso coletivo. Educar é, acima de tudo, um exercício de responsabilidade. E isso começa por reconhecer a verdade, mesmo quando ela dói. Afinal, quem está na linha de frente da educação sabe: fingir que está tudo bem nunca foi e nunca será o caminho para transformar realidades. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *