Coluna 16_ 27/05/2025
” POR AÍ, CONTANDO HISTÓRIAS…”
INSTAGRAM: @livroteca.com.cha
FACEBOOK: @autoracarolinehenriques
YOUTUBE: @livroteca.comcha
TIKTOK: @autoracarolinehenriques
Algumas pessoas vivem tanto que transbordam. Não de sobras, mas de experiências que viram estrada, enredo, cura. Jorgilea é dessas. Uma mulher que se reconhece nas próprias pegadas, e, ainda assim, segue caminhando com humildade, acolhendo cada desvio do percurso como parte da jornada.
Desde pequena, ela entendeu que palavras têm poder. Aos cinco anos, já lia placas de rua em voz alta, graças a um caderno de caligrafia e à paciência da mãe, Antonia, que mesmo sem ter completado o primeiro ano escolar, sabia ensinar com amor. Em casa, as histórias fluíam como alimento. Era a infância sendo moldada por livros, gibis e gargalhadas na cozinha.
Mas a vida também impôs seus silêncios. A doença do pai, a crise emocional da mãe, a família que se desfez cedo demais. Aos quinze, Jorgilea deixou a cidade natal e partiu para São Paulo. Carregava na mala mais perguntas do que certezas, mas não deixou que o mundo a endurecesse. Ao contrário: cuidou de si, mesmo tropeçando às vezes. E foi abrindo caminhos.
Trabalhou no setor administrativo, sonhando com o próprio negócio até que, em 2001, decidiu virar a mesa e empreender. Criou a Suporte Eventos, um serviço pioneiro de transporte acessível, com apoio do setor de acessibilidade da USP. Foram vinte anos de trabalho com pessoas, histórias e dores — vinte anos de cuidado. Quando pôde, realizou o sonho antigo: cursou Letras e se encantou pela contação de histórias. Afinal, como ela mesma diz, “o coração é a porta para a transformação”.
Se reinventar parece ser um dom. Ao lado de novos mestres, mergulhou na Terapia Holística, na Contoterapia, na Constelação Sistêmica. Descobriu que o autoconhecimento também é caminho. Tornou-se um fio condutor: uma presença disponível para quem precisa se escutar.
No próximo dia 07 de junho, Jorgilea receberá a honraria de ocupar a cadeira nº 21 na Academia Brasileira de Letras de Governador Celso Ramos. A cerimônia marcará não só o reconhecimento de sua trajetória, mas também sua ligação com a poesia e a palavra viva, tendo como patrono Lindolf Bell e sendo apadrinhada por membros da própria Academia, uma homenagem à sua contribuição para a cultura e a sensibilidade humana.
Hoje, aos quase 68 anos, Jorgilea vive em Governador Celso Ramos, lugar que chama de paraíso. Depois de tantos capítulos, encontrou ali um novo começo, e, como toda boa contadora de histórias, sabe que nenhum recomeço é acaso.
Sua história é feita de gente, de gratidão, de aprendizado constante. Uma biografia viva, que não precisa de moldura porque já pulsa arte.
”O conteúdo publicado neste espaço é de inteira responsabilidade deste autor”.
Caroline Henriques, acadêmica de jornalismo, leitora crítica e escritora.
FOTO: Jorgilea Gomes.
1 Comentário
Lindo texto! Parabéns Caroline por tão lindamente colocar em palavras a trajetória dessa pessoa querida.