Ensinar a sentir: a nova missão das escolas

Conversando outro dia com uma professora, ela me disse: “Tenho alunos que não conseguem prestar atenção por cinco minutos. Estão ansiosos, inquietos, às vezes até agressivos.” Eu perguntei: “E o que eles sentem, você sabe?” Ela respondeu com um silêncio que dizia muito.

A verdade é que, por muito tempo, ensinar foi visto apenas como transmitir conteúdo. Matemática, português, ciências, tudo isso importa, claro. Mas há algo anterior, mais básico e essencial: a capacidade de sentir, nomear, lidar com as emoções. A escola que ignora o emocional, ensina pouco.

Hoje, vemos crianças e adolescentes emocionalmente sobrecarregados. Vivem o imediatismo, a pressão por desempenho, a instabilidade familiar e social. Muitos não sabem lidar com a frustração, com a espera, com o “não”. Em vez de escuta, recebem rótulos: “ansioso”, “indisciplinado”, “preguiçoso”.

É urgente transformar a escola em um espaço também de educação emocional. Mas essa não é uma missão exclusiva da escola. A base da gestão emocional se constrói em casa, nas pequenas interações do cotidiano: quando os pais escutam de verdade, quando ensinam que tudo bem sentir tristeza, quando modelam com o próprio comportamento o que é empatia, respeito e autocontrole, quando são exemplo.

Família e escola não podem mais caminhar em trilhas separadas. Precisam unir forças. Uma criança que cresce em um ambiente onde há coerência entre o que se vive em casa e o que se ensina na escola tem muito mais chances de desenvolver equilíbrio emocional. Quando os adultos se comprometem com o próprio processo de autoconhecimento, os filhos aprendem por osmose.

Na prática, gestão emocional significa ensinar autocontrole, empatia, tolerância. Significa que o aluno aprende a esperar sua vez, a pedir desculpas, a identificar quando está sobrecarregado. E o professor também precisa ser acolhido nesse processo, afinal, é impossível ensinar equilíbrio sem ter um mínimo de suporte emocional.

Educar hoje exige mais do que conhecimento técnico. Exige coragem para entrar no campo do afeto, da escuta, da presença. Quando uma criança aprende a lidar com as próprias emoções, ela aprende melhor, convive melhor, cresce mais inteira.

Talvez o maior conteúdo da escola do futuro não esteja somente no quadro, mas na relação. Porque quem aprende a sentir, aprende a viver. E disso, nossa sociedade nunca precisou tanto.

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