Coluna 09_ 18/04/2025
” POR AÍ, CONTANDO HISTÓRIAS…”
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Embora minha coluna costume trazer reflexões, curiosidades e temas diversos do nosso cotidiano, hoje decidi fazer algo um pouco incomum: compartilhar um conto. Como escritora contista, acredito no poder das histórias para nos fazer lembrar — e sentir — o que, muitas vezes, esquecemos.
E já que estamos em uma data tão especial quanto a Páscoa, quis resgatar, através da ficção, aquilo que ela realmente representa.
O SILÊNCIO DE DOMINGO
A cidade acordou diferente naquele domingo. As ruas, geralmente agitadas, pareciam ter esquecido de acordar. Poucos carros, menos barulho, e uma brisa morna que arrastava folhas secas como se limpasse os caminhos. Era Páscoa, mas ninguém parecia lembrar por quê.
Em uma casa simples no final da rua, Sofia arrumava a mesa do café. Não havia ovos de chocolate. Não por falta de dinheiro, mas por uma escolha. Ela crescera ouvindo que a Páscoa era mais do que presentes ou enfeites coloridos. Era sobre recomeços. Sobre olhar o outro com compaixão. Sobre perdoar. E isso, ela sabia, andava em falta no mundo.
Na tela do celular, uma sequência de manchetes. Guerras, brigas políticas, intolerância, famílias rompidas por orgulho. Onde foi parar o verdadeiro significado da Páscoa?, ela se perguntava. Não aquele contado nas escolas ou nas propagandas, mas o que vive no silêncio. Aquele que fala de renúncia, de entrega, de amor incondicional.
Sofia saiu para caminhar. No trajeto, notou vizinhos que não se olhavam mais, crianças trocando ofensas em vez de figurinhas, idosos sentados sozinhos em bancos de praça, como se o tempo os tivesse esquecido. O que será que o mundo precisava lembrar?
Páscoa, no fundo, é sobre isso — pensou. Não um evento, mas um convite. A deixar morrer em nós o que nos separa, para que algo novo possa nascer. Uma chance de reinício, de transformação.
Ela voltou para casa e escreveu um bilhete. Dobrou com cuidado e colocou na caixa de correio do vizinho com quem não falava havia meses. Nele, poucas palavras:
“Hoje é dia de ressuscitar o que ficou para trás. Que tal começarmos pelo perdão?”
Sofia sabia que talvez ele nem lesse. Se lesse e jogasse fora. Mas naquele domingo silencioso, ela quis ser semente. Porque a Páscoa, para ela, era isso: não o que se recebe, mas o que se planta.
”O conteúdo publicado neste espaço é de inteira responsabilidade deste autor”.
Caroline Henriques, acadêmica de jornalismo, leitora crítica e escritora.
Foto: IA.
2 Comentários
Uma reflexão tocante e profundamente necessária. A narrativa resgata com sensibilidade o verdadeiro significado da Páscoa, não como celebração comercial, mas como experiência de reconexão, perdão e esperança. Como alguém que acredita no verdadeiro sentido da data, reafirmo a importância de promovermos espaços de escuta, empatia e recomeços. Que possamos, como Sofia, ser sementes de transformação em meio aos silêncios do mundo. Parabéns Carol um texto maravilhoso e muito adequado para a Páscoa!!!!
Bem citado quando tu escreveu que acredita que história tem poder. Isso é verdade , ela tem o poder sim. Assim como no conto ela foi uma menina que foi semente e semeou o perdão.O conto ele nos semeia em nossos corações algo que toca e nos remete ao um sentimento acolhedor guardado dentro da gente. É tão gratificante essa leitura e sentir essa sensação ao ler o conto e saber que todos nós temos algo bom em nossos corações que podemos semear todos os dias. Parabéns pelo conto Caroline Henriques. 👏🏾